terça-feira, 23 de março de 2010

Far-nordeste: rumo a outro país dentro do Brasil

Como o far-west norte-americano, seguimos uma espécie de colonização desbravadora, um choque de capitalismo que criou a corrida ao ouro do consumo. Quando pensar nisso, pense que a principal resultante desse processo é retirar milhões de brasileiros da ignorância e da pobreza.

Com 28% dos habitantes brasileiros, o Nordeste mantém desde 2004 a maior média de crescimento em renda familiar do Brasil, acima de 6,5% ao ano. Não é à toa que este é o mais novo destino para os investimentos do varejo brasileiro: serão mais de R$ 11 bilhões injetados na região até 2013, com a abertura de mais de mil pontos de venda. E, para alcançarem suas estratégias comerciais, grandes empresas já estão enviando mão de obra super qualificada para cidadesinhas com cerca de 200 mil a 400 mil habitantes, como Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco.

Atraídos por incentivos fiscais, custos menores e considerável aumento do consumo da classe C, diversos fabricantes abriram unidades no NE, fazendo girar a engrenagem local de empregos e renda. Este processo de migração industrial teve sua origem no esgotamento do eixo Rio-São Paulo e hoje as cidades nordestinas são as que apresentam as maiores taxas de crescimento do país. Para se ter ideia, o Índice de Potencial de Consumo (IPC) de São Paulo caiu 4,73%, enquanto Juazeiro do Norte (CE), com 249 mil habitantes, elevou sua participação relativa em 18,2% em 2009.

Mas “rapadura é doce mas não é mole não”: ao aterrissar em terras nordestinas, empresários têm esbarrado em redes regionais fortíssimas, que reinaram sozinhas por anos e anos, já que a região nunca fora alvo de interesse dos eixos econômicos tradicionais. Segundo a consultoria Nielsen, o Nordeste concentra o maior número de lojas de pequeno varejo do país - são cerca de 100 000 pontos de venda, o equivalente a um terço do total nacional.

As diferenças culturais também fazem parte de outra dificuldade encontrada: só vingará quem souber se adequar aos costumes locais. Em matéria da revista Exame (“Eles se renderam ao Nordeste” - 24/02/2010), a paulista Edna Giacomini, diretora da região Nordeste da Danone, explica que, em 2008, a empresa colocou nas prateleiras do varejo do Nordeste embalagens unitárias do iogurte Corpus, vendido a 49 centavos. No ano seguinte, repetiu a estratégia com o Danoninho Cremoso, uma variação exclusiva do iogurte, cotada a 79 centavos a unidade. "No mercado nordestino, o consumidor precisa encontrar produtos que possa comprar com uma moeda", comenta.

Sou bastante reticente com esses excessos de regionalismos. Acho que marcas globais / nacionais precisam sempre estar atentos em manter suas políticas de BRANDING intactas, afinal só isso garante uma condição plena de vitória no ringue das disputas mercadológicas.

De qualquer maneira, de moeda em moeda, tem-se um cofre cheio. Prepare para as cifras: o grupo Walmart pretende destinar à região metade dos investimentos de R$ 2,2 bilhões previstos para este ano. Já, as Lojas Americanas afirmam que o investimento chegará à casa de R$ 1 bilhão, com a abertura de 90 PDVs no Nordeste. A Danone diz que as vendas nordestinas crescem atualmente três vezes mais que no restante do país... Informações muito animadoras! É um crescimento no padrão da performance da China.

A briga pelo ouro, agora em potes bem para lá do arco-íris dos paulistanos, certamente será um grande trunfo rumo ao desenvolvimento brasileiro. Dá-se um novo ciclo das bandeiras e a descoberta de um novo Brasil. A sorte está lançada!

Este mesmo tema foi tratado no programa Marketear por Luis Grottera, na Rádio Bandeirantes. Ouça o programa aqui

3 comentários:

  1. Esperamos safras melhores pra Salvador, tomara que os investidores olhem cada vez mais pra cá e com isso esperamos que nosso mercado evolua, cresca e se desenvolva. O mercado agradece! Muito bom artigo. Parabéns.

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  2. Sou Coordenador de Comunicação da Prefeitura de Campina Grande e digo que ficamos extremamente envaidecidos com o seu comentário na Rádio - refletido, também, aqui no blog. Um amigo ouviu e me falou. Fui ao site da emissora, ouvi e espalhei com os nossos colegas de imprensa. Depois descobri que você tem este blog e estou aqui para agradecer as referências. Campina Grande inteira comenta a sua análise. Para nós, campinenses, notícias como esta que você comentou nos deixa bastente felizes. Ela se soma a tantas outras divulgadas nos últimos cinco anos, como as referências feitas pelas revista Newsweek (Campina Grande é o maior polo de produção de software da América Latina e referência na produção de tecnologia do Brasil); Você S.A. (Campina Grande é a melhor cidade para se fazer carreira profissional do interior do Nordeste); Carta Capital (Campina Grande é reconhecidamente um polo de invenções tecnológicas); Gazeta Mercantil (Campina Grande está entre os municípios mais dinâmicos do Brasil); Folha de São Paulo (A economia de Campina Grande cresce mais que a de muitas cidades brasileiras), dentre tantas outras referências. Um abraço, sempre ao seu dispor. Espero vê-lo aqui no Maior São João do Mundo - este ano de 04 de junho a 04 de julho. E, se o Brasil se classificar para a final da Copa, de 04 de junho a 11 de julho. Vamos torcer juntos!!!

    Carlos Magno Macedo
    Coordenador de Comunicação - PMCG
    magnopb@uol.com.br
    (83) 8838-9335
    (83) 3341-1516

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  3. Então, vemos negócios além do turismo quase amador no nordeste...

    MUITO BOM!

    Bjbjs,
    Fe

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