Sonhava com a hipótese de provar a existência de uma classe média de negros já significativa no mercado. Contei com a importante colaboração da revista RAÇA.
A conclusão não poderia ter sido mais eloquente. Naquele momento, o número já era marcante: 1,7 milhões de famílias negras, com bom nível de escolaridade, renda familiar média de dez salários mínimos. 7 milhões de indivíduos negros inseridos na classe média. U

O trabalho caiu como uma bomba no mercado. O Brasil vive uma falsa e hipócrita fantasia que o país é uma democracia racial. Trata-se de um mito. Temos um convivência de paz e harmonia. Mas nunca tivemos uma conduta similar na distribuição mais igualitariamente a riqueza e a qualidade de vida. Quando provei a existência de 7 milhões de pessoas de bom poder aquisitivo, que formam um segmento com características próprias, trouxe a tona uma visão nova do problema.
A pesquisa teve cobertura de todos os grandes jornais do Brasil, o Zeca Camargo me entrevistou no Fantástico numa matéria que teve 12 minutos no ar, rádios jornalísticas todas. Veja e Exame pautaram o tema. Tanta estupefação era a prova definitiva do preconceito. Fui convidado a falar em 7 diferentes ambientes de debates da comunidade negra. Em quase todos, 'apanhei' muito: eu era o branco, publicitário e que queria abordar a igualdade a partir do ponto de vista capitalista.
Valeu a pena. Foi um momento estimulante da minha carreira. E fico muito feliz de ter destampado a panela.
Neste final de semana, o Estadão publicou números recém divulgados da pesquisa do economista Marcelo Neri da FGV, sobre o mesmo tema. Os resultados são motivo para muita comemoração. Demos um salto enorme na participação dos negros na economia brasileira nos últimos 15 anos.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mais da metade dos negros brasileiros (53,5%) pertencem hoje à classe média, incluindo a classe C, a nova classe média popular.
Quer mais algumas boas notícias? Segundo os Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets),entre os 10% mais ricos do Brasil, 1 em cada 4 chefes de família é negro ou mestiço. E entre os 1% de riquíssimos brasileiros, a proporção de chefe de famílias negros ou mestiços subiu de 9 para 15%.
Para o pesquisador do Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), André Urani, essa melhora relativa de renda de negros e mestiços nada tem a ver com as políticas de cotas. "Se, de fato, como parece, isso não se deve à política de cotas, então está aberto um campo gigantesco para se investigar as determinantes dessa trajetória e ter políticas públicas que a incentivem."
Vendo estes fatos, postei diversos twitts sobre o assunto. E claro que podemos medir, via esta incrível mídia social, o quanto este assunto é relevante e gera polêmica. Dentre eles, perguntei: “Tudo isso foi conquistado sem as cotas raciais. Bastou uma economia sem inflação e administrada com responsabilidade. Qual razão pras cotas?” e recebi respostas muito pertinentes.

Mas para os que são contra esta política, também há bons argumentos de defesa. A revista Veja de 1 ano atrás (4/3/2009) já dizia: “A primeira e mais grave reflexão a fazer é se o papel das universidades federais deve passar a ser o de reparar injustiças históricas. Se for isso, há que ter em mente que se trata de uma mudança radical. As universidades existiram desde sempre para produzir conhecimento. A produção de conhecimento de qualidade só é possível em ambientes de porta de entrada estreita e com rígido regime de mérito. É o contrário do que propõe o sistema de cotas em votação no Senado. Se ele for aprovado, metade dos calouros terá acesso à universidade usando como passaporte de entrada o vago e cientificamente desacreditado conceito de raça. Adeus ao mérito individual. Com ele se despedem também a produção de conhecimento e o avanço acadêmico. Deve haver formas menos destruidoras de reparar injustiças históricas.”
Minha posição pessoal vai ao encontro da opinião de Veja. Não acho que reservas de mercado vai nos ajudar em nada. Muito menos no sistema universitário brasileiro, que está muito longe de ser um passaporte para o progresso social e profissional no país.
Mais anos de crescimento na casa dos 4 a 6%, sem inflação, com a mobilidade social que a sociedade brasileira permite, será suficiente para dar aos negros voluntariosos, estudiosos, dedicados e profissionais uma qualidade de vida digna. Igualzinho brancos, pardos, italianos, flamenguistas ou evangélicos. Isso é uma democracia. Sem adjetivos.
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