Entrevista cedida à coluna Poder Econômico, em 8 de setembro de 2012
"Logo da Copa do Mundo fará mal ao branding do Brasil"
A Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 colocarão, como todos já sabem, os olhos do mundo sobre o Brasil. Será, portanto, uma grande oportunidade para o país – e suas empresas – mostrarem aos quatro cantos suas marcas e ganhar com isso.
Mas, segundo o publicitário Luis Grottera, CEO da Brandia Central do Brasil e ex-presidente da TBWA\BR, os dois eventos se contrapõem no trabalho de branding. Enquanto os Jogos Olímpicos caminham para o sucesso, a Copa do Mundo dá sinais de fracasso.
- A logomarca da Copa do Mundo é simplesmente horrorosa, diz nesta entrevista ao Poder Econômico.
Poder Econômico – Qual o gap entre branding no Brasil e nos EUA? Em quantos anos veremos uma empresa brasileira no estágio atual de uma Apple, por exemplo?
Luis Grottera – O centro de branding do mundo – onde ele está mais desenvolvido – é o eixo Londres e Nova Iorque. O Brasil, hoje, tem uma estrutura de comunicação fortemente dirigida para a mass media, que favorece prioritariamente as agências de publicidade. O branding em si ainda não se desenvolveu o quanto deveria, mas pouco a pouco já podemos perceber alguns avanços. Em quantos anos veremos uma empresa brasileira se equiparando aos padrões da Apple? Pode parecer absurdo, mas não acho que estejamos tão longe – claro, não no mesmo segmento de mercado, porque tecnologia ainda não é o forte do Brasil. Do ponto de vista exclusivamente do branding, temos como um ótimo exemplo a marca Havaianas. Trata-se de uma empresa que se desenvolveu fortemente a partir dos conceitos de branding e, hoje, tem um posicionamento, tanto no país como no exterior, bastante solidificado. É um case de sucesso espetacular.
Poder Econômico – Em geral, como se posicionam as marcas brasileiras com relação a branding?
Luis Grottera - As empresas brasileiras estão em fase primária de conhecimento do que seja, de fato,branding. Pouco a pouco, algumas empresas de elite – não obrigatoriamente as maiores, mas as que pensam mais no futuro em relação às que pensam de maneira mais atrasada – estão começando a conceber e entender o conceito de branding e diferenciá-lo da comunicação tradicional. Ainda é muito comum executivos do mercado brasileiro acharem que branding e publicidade são a mesma coisa ou, pior, que branding se limite a desenhar uma nova marca ou re-estilizar a atual quando, na verdade, o design da marca é apenas a ponta do iceberg. O que faz o branding ser uma metodologia do futuro e vitoriosa em todo o mundo é justamente o fato de que trabalha a alma da empresa, e não apenas seu visual. Hoje, as marcas precisam se fazer entender por tudo que elas transmitem, se comunicando, também, sem palavras.
Poder Econômico – Os grandes eventos como Copa e Olimpíadas podem ajudar as marcas brasileiras a ganhar projeção internacional? As empresas estão bem preparadas para isso?
Luis Grottera - Não tenho muita certeza do porquê isso aconteceria. O fato de o mundo inteiro estar olhando para o Brasil durante esses dois eventos significa que o Brasil vai estar em destaque, não necessariamente as empresas brasileiras. As marcas que estarão realmente em evidência são as marcas globalizadas, como Adidas, Mc Donald’s e Coca-Cola. Uma outra maneira de olhar esse assunto é pensando em termos de Place Branding – traduzindo, a criação da marca de um determinado lugar. Um evento desse porte, com transmissão global de televisão, é uma importante ferramenta de divulgação da cultura de um país – suas capacidades, pontos turísticos, e hospitalidade. Por muitos anos, essa imagem positiva, pujante e bonita, ficará na memória de centenas de milhões de pessoas mundo afora. Assim, só faz algum sentido sediar eventos desse porte se estiverem com os objetivos voltados para o Place Branding de seu país; ou seja, se tiverem como intuito desenvolver a marca do Brasil no exterior. Mas precisamos, antes, pensar a respeito: desenvolver uma marca do quê? O que queremos dizer sobre o nosso país? Antes de mais nada, temos que saber quais são os nossos ícones. A marca, no caso do Brasil, tem que ter a ver com um país que seja simpático, alegre, desenvolvido. Sim, um país emergente, mas desejando entrar no primeiro mundo.
Poder Econômico – E o branding para Copa e Olimpíadas está no caminho certo para esse objetivo?
Luis Grottera - Uma das maneiras mais eficazes de se passar essa mensagem é através da própria logomarca do evento. Nesse sentido, temos como um excelente exemplo a logomarca das Olimpíadas de 2016, que traduz o espírito brasileiro e está em linha com o que se vê de melhor no mundo. Na contramão, temos a logomarca da Copa do Mundo de 2014 – evento que mais terá audiência no exterior -, que é simplesmente horrorosa. Uma vergonha de feiura, de mau gosto, de antiestética e não conceitual, que certamente não fará bem algum ao branding do Brasil.
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