A Copa do Mundo de 2014 terá vários impactos no Brasil. Um deles é a pressão que vai gerar em todo o mundo do futebol brasileiro.
O nível de profissionalismo e de investimentos que um evento desse porte deixa no setor, acaba por exigir da administração dos clubes uma nova conduta. Meia dúzia de times que comecem a adotar medidas com competência administrativa, já são suficientes para começar uma revolução no futebol.
Parece uma heresia para os apaixonados que amam discutir jogadores e criticar técnicos, mas o fato é que nada acontece com os clubes enquanto não adotarem eficácia profissional na sua gestão.
Prestem atenção nos detalhes e avalie a performance do Santos, do Corinthians, do Internacional, exemplos entre os que se destacam e ganham mais espaço em função da boa administração e que, em compensação veja o futebol do Rio, que continua vivendo só de ciclos e momentos, ou o Palmeiras não se acerta há anos fruto da péssima conduta de seus dirigentes.
O São Paulo é um ótimo exemplo. Viveu um momento de glória na década de 90 e até os primeiros anos do novo século. Mas deixou de ser um time de ponta quando a administração saiu dos trilhos e vive uma fase de culto a personalidade na sua presidência.
Torcedores, se quiserem que seus times ganhem campeonatos, discutam menos os craques e mais os dirigentes. Com certeza é mais chato, mas é muito mais eficiente.
Mas os times não faturam muito pouco?
A falta de dinheiro, eterna desculpa de dirigentes incompetentes, já não cola mais. Segundo a consultoria BDO, o faturamento dos 20 maiores clubes brasileiros cresceu 27% em 2011. Estamos falando de um valor 2 bilhões de reais só nesse grupo.
Trata-se de um valor de grande significado econômico, o que torna cada vez mais importante que associados e torcedores dos clubes de futebol tenham participação direta e objetiva sobre a administração desses valores. É preciso mais: fiscalizar mesmo, afinal no Brasil os clubes não são propriedade privada de ninguém. Portanto é de todos.
Quem vota para definir o administrador do clube?
Uma importante constatação sobre esse aspecto tem a ver com qual a origem desse faturamento. Apenas 13% do total do valor vem da atividades sociais do clube. 87% tem origem nas atividades do Departamento de Futebol.
Aqui há flagrante equívoco na estrutura entre a entrada do dinheiro e a divisão do poder dentro dos clubes de futebol. Quem decide e vota a diretoria do clube são apenas os associados, uma quantidade ínfima em relação ao de torcedores.
Vamos aos números. A torcida dos grandes times de futebol de SP conta-se em milhões de pessoas. Entre 15 e 30 milhões para cada. O número de associados dos clubes varia entre 30 e 40 mil pessoas. Mas desses, com direito a voto, o número reduz para 10 a 15 mil. E normalmente a eleição acaba tendo a presença de 3 a 5 mil. Ou seja, pra cada 10 mil torcedores, apenas 1 vota. O que é ridículo!
A quem interessa isso? Exclusivamente aqueles que querem se perpetuar no poder na direção dos clubes e administrando milhões de reais que não lhe pertencem.
A solução para isso é a imediata adoção do sistema de Sócio-Torcedor com direito a voto, ou seja, pessoas que pagam para se associar ao clube, pagam pouco, porque não tem direito ao uso das dependências sociais do clube, mas que tem direito a participar dos destinos políticos do clube, pois votam pra diretoria e pro presidente.
E como vai a performance econômica dos principais times?
O primeiro destaque a se fazer tem a ver com a dívida dos clubes. Apesar do aumento de faturamento geral, todos os clubes continuam sendo administrados de forma irresponsável. Tecnicamente falando, boa parte está e situação falimentar.
O Corinthians continuam dando um passeio. Seu faturamento é de quase 300 milhões de reais por ano, com um crescimento de 37% sobre 2010. Os direitos de imagem negociados com a TV representam quase 40% dessa receita. Apesar da brilhante gestão na área de marketing, sua dívida é de quase 60% da receita e cresceu 46%.
O segundo é o São Paulo, com 230 milhões de faturamento. Um crescimento bem inferior ao do Corinthians, 16% e uma dívida com um crescimento megalomaníaco de 68%. Um dado interessante, é a boa administração que o clube faz do Morumbi, que sozinho significa 18% do dinheiro do clube.
Internacional, que vem se destacando, é o 3o colocado, Santos é o 4o e também o único que reduziu sua dívida em 2011, Flamengo é o 5o lugar em faturamento, mas com uma dívida que é o dobro da receita. O Palmeiras, meu time do coração, está ladeira abaixo também no dinheiro. Caiu 2 posições e está em 6o lugar.
Como qualquer empresa do mundo, essas indicações da situação econômica dos clubes têm reflexo direto naquilo que produzem. Times mais ricos, com maior faturamento e boa administração têm mais chance de pagar, contratar e estimular seus atletas e comissão técnica. Por isso torcedor apaixonado que me ouve, se vc quer mais vitórias e conquistas esportivas, tenha atenção com a administração do clube.
Essa não é parte gostosa de torcer para o futebol, mas é mais decisiva do que xingar a mãe do juiz ou pedir a cabeça do técnico.
PS.: minha eterna homenagem a logomarca da Copa 2014, um péssimo exemplo do que o design tupiniquim pode produzir.
PS2.: 1 hora depois desse post, recebi um mail de um dos mais brilhantes dirigentes do futebol brasileiro (sim, eles existem. poucos é verdade...), afirmando: "Só um reparo: Botafogo e Fluminense tem gestões impecáveis, tanto o Mauricio como o Peter são de primeira."
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