No contexto do pós- censura, em 1980, o Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária nasceu. Muito longe de ser um orgão censor, o Conar, abreviado como o conhecemos, foi criado com preceitos da liberdade: defesa da expressão comercial, respeito à ética, às leis brasileiras e, sobretudo, aos direitos do consumidor.
Eu tive a felicidade de participar do momento da aprovação e da criação deste orgão, no Congresso Brasileiro de Propaganda. Foi uma ocasião muito especial, pois provavelmente marca uma das atitudes mais sérias e competentes que o mercado publicitário tomou em direção à sociedade. A intenção do mercado de veículos de comunicação, os anunciantes e publicitários, ao criar o Conar, foi conter um pouco uma onda avassaladora de leis completamente estapafúrdias que estavam sendo discutidas na época no Congresso Nacional (e continuam sendo). A idéia era dar sentido lógico a estas leis e não se deixar fazer a falsa propaganda, a propaganda enganosa.
Depois da criação desta instituição, as agências de propaganda passaram a pensar 20 vezes antes de criar uma peça. O Conar colocou a ética na ordem do dia. Não há nenhuma campanha que vai para o ar hoje que não leve em consideração isto. Mas também há seus excessos. Recentemente, tivemos o caso Devassa, com a Paris Hilton. A campnha foi coibida pelo Conar depois de ter sido veiculada, em função de queixas que diziam que as propagandas apelavam para estímulos sensuais. Eu pessoalmente vejo como um exagero, acho que esta campanha não tinha esta característica. Mas, quando o Conar decide, está decidido.
Críticas à parte, o grande desafio desta importantíssima instituição é conduzir a ética na propaganda brasileira sem autoritarismos, sem criar retrocessos na comunicação. E, como , na grande maioria das vezes, conseguiu este feito, ao longo de seus 30 anos, é muitíssimo respeitada pela sociedade, pelas agências e pelos veículos de comunicação.
Acho curioso que este modelo não tenha sido replicado a outros casos e mercados. Seria muito importante ter algo semelhante agindo sobre o conteúdo jornalístico, por exemplo. A mídia é o 4° poder e precisa de algum tipo de auto-regulamentação. Afinal de contas, o Conar é um exemplo de que, quando os profissionais de um segmento se unem e se auto-regulamentam, sapo de fora não chia.
Durante todos estes anos, o Conselho já julgou mais de 7 mil casos e menos de 10 deles foram questionados por anunciantes na justiça. É uma credibilidade ímpar! Para manter tamanho respeito, o órgão vive sendo revisado. O Conar é um órgão que revisa suas premissas regularmente. Seu código de ética é constantemente revisto. Um grande esforço é feito para que se mantenha atualizado e em sintonia com as aspirações da sociedade. Quem trabalha dentro da instituição monitora os projetos de lei que correm no Congresso Nacional e mantém as antenas ligadas em relação às preocupações da população para respondê-las antes que uma lei se faça necessária. Diante de tanto compromisso com o consumidor, temos motivos de sobra para comemorar seu aniversário. O Conar é um grande exercício de cidadania para todos nós, brasileiros.
Ouça o programa Marketear por Luis Grottera desta semana, na Rádio Bandeirantes. Nele, LG também fala sobre o Conar e seu histórico de decisões.
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